Dentro da programação do Cine Selles, que neste semestre debate o tema Maldade, foi exibido no dia 29 de outubro o filme 45 anos. Trata-se de um drama que aborda as relações humanas por meio da história de um casal protagonizado pelos premiados atores Charlotte Rampling e Tom Courtenay, respectivamente Kate e Geoff na trama.
Na semana em que os dois vão comemorar 45 anos de união matrimonial uma carta chega como um terremoto na vida do casal: informa sobre a descoberta do corpo de Katya, ex-namorada de Geoff, que ficou quase 50 anos desaparecida nas montanhas da Suíça. Katya estava congelada, seu corpo intacto desde os 27 anos.
A partir daí, as reflexões atingem muitos pontos que podem ser comparados com a vida de muitos casais, como mostraremos a seguir. Embarque com a gente!
Você conhece realmente quem está ao seu lado?
Em inúmeras cenas do filme fica evidenciada uma situação muito comum nos relacionamentos afetivos: a crença de conhecer completamente um ao outro.
Muitas vezes as pessoas idealizam um par perfeito e não percebem ao longo do dia a dia comportamentos ruins e até mesmo maldosos. Na trama, Geoff é um típico homem ranzinza e depressivo que chega ao ponto de falar para a mulher que ficou 45 anos ao lado: “Esta carta é sobre a minha Katya”. “A minha Katya”. Sutil, não é mesmo?
Em muitos momentos ele deixa claro que a ex foi o grande amor de sua vida e que, se pudesse voltar ao tempo, ficaria com ela, deixando a atual mulher paralisada, com uma mistura a princípio de ciúmes e raiva de corroer a alma.
Com franquezas nada sutis sobre o passado, o personagem acaba descortinando à esposa que o príncipe idealizado por ela nunca existiu. Aliás, as atitudes do marido só fazem cair o castelo de sonho que Kate construiu ao longo das décadas. Ou seja, fica bem claro que o amor muitas vezes pode cegar. Atente-se a isso!
E o companheirismo como anda em suas relações?
Kate sempre foi uma mulher muito séria e pragmática, agindo constantemente pelo bem-estar do marido. Sabia os horários dos remédios, dos cardápios que ele mais gostava e fazia tudo para deixá-lo bem, confortado e satisfeito.
Entretanto, não havia uma resposta afetiva por parte dele. Pelo contrário, a canalhice acaba sendo uma marca muito evidente do personagem masculino.
Com isso, a reflexão que fica é: na sua relação há companheirismo? Existe compaixão? A chamada estrada de mão dupla, onde ambos se ajudam, dividindo tarefas e sendo bondosos e carinhosos um com o outro vem sendo praticada?
Fora isso, muitos casais deixam de viver o momento pelo fato de ficarem presos em situações do passado, como a morte de uma ex, término de um antigo relacionamento ou até mesmo a partida de um familiar muito íntimo. Ponto que também foi mostrado no filme e que abordaremos na sequência.
E o luto, foi feito?
Guardar o luto e se culpar é um comportamento que pode trazer sérias consequências nas relações humanas. Sem um devido perdão e entendimento dos fatos, muitas vezes segredos guardados a sete chaves podem voltar à tona e, com eles, verdadeiros embates surdos.
Silêncios são muito paradoxais. Ao mesmo tempo em que trazem harmonia também podem refletir omissões e até mesmo indiferenças entre as pessoas no convívio diário.
Portanto, se você está passando por uma situação em que a morte de alguém ou o fim de uma relação não te deixa em paz, pense seriamente em buscar apoio emocional para colocar para fora sentimentos que possam trazer muitos conflitos no futuro. E, inevitavelmente, prejudicar a sua qualidade de vida.
Um debate heterogêneo
Após o término do filme, todos os participantes do Cine Selles debateram as situações vivenciadas pelo casal na trama, com opiniões bem diversificadas. E este é o objetivo mesmo do projeto que já acontece desde 2009 na clínica.
“A ideia é despertar o exercício de reflexão. O filme consegue concentrar tudo o que a gente estuda e trabalha de uma maneira bem objetiva, mostrando traços de patologias e comportamentos. Desperta sentimentos que podem ser divididos na discussão”, explicou a psicóloga Nelma Botti.
Para quem participa do projeto, o momento é muito prazeroso e enriquecedor. “Sempre são filmes surpreendentes. Aqui encontro novidades e as pessoas trazem ideias que eu não conseguiria pensar sozinho”, definiu o aposentado Geraldo Porto.
O próximo filme do Cine Selles será “O que você faria?” (nome original: “El Método”), com exibição no dia 27 de outubro, a partir das 18h, seguindo com a discussão às 20h. O tema segue com o fenômeno da Maldade.
Comentar →